quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Um regresso turbulente à Missão

Depois de umas óptimas férias, fechei a mala e comecei a viagem de 18 horas que me levaria de regresso à Missão.
Em Lisboa houve um atraso fatal. Quando chegamos à Holanda, o avião para o Quénia já tinha partido.
Nada de grave, disseram-me, pois tinha jantar e dormida num hotel de luxo e, na manha seguinte, havia outro avião. A dificuldade era a ligação para a cidade de Kisangani, no Congo.
“Kisangani!” Perguntou a menina admirada. “Não encontro nenhuma ligação para essa localidade!”, disse.
Ela começou a preocupar-se e, de olhos fixos no ecrã do computador, ia dizendo:
“Tem a certeza que essa cidade existe?” “Deve ser um lugar muito pequeno” “Como é que o vamos levar até lá?”. “Ai meu Deus, isto é um pesadelo!”.
Mostrei-lhe num mapa onde ficava o meu destino, mas nada!
Finalmente, depois de mobilizar todas os colegas do balcão, descobrirão que Kisangani existia e que havia um voo para lá chegar. Só que o voo era quatro dias depois.
A senhora tornou-se mais preocupada do que eu. “Como é que vamos fazer? Pois a companhia não dá hotel para tantos dias!” “O Senhor tem que voltar para Lisboa e esperar lá”.
Não, respondi, prefiro esperar no Quénia”. A menina sorriu aliviada e perguntou se eu lá tinha onde ficar. Claro que tinha. E mais do que isso. Eu queria lá ficar uns dias para visitar amigos, mas a agência exigia 500 $ à mais. Agora, podia lá passar uns dias. Fazia, assim, um favor à companhia e dava um abraço aos amigos!
Do hotel enviei um E-mail e explicar a mudança de programa. Para maior segurança enviei também um E-mail ao Provincial do Quénia. Fui dormir descansado com o despertador para uma hora conveniente. Depois do pequeno-almoço, quando me preparava tranquilamente para apanhar o autocarro para o aeroporto, apercebi-me que estava uma hora atrasado. O embarque era às 9.05 e às 9.00 ainda estava no hotel. Isto porque tinha esquecido de adiantar a hora do despertador. O que fazer? Não podia perder este avião!
Fui a correr para a recepção do hotel, expliquei a minha situação e pedi um táxi urgentemente. A menina, indiferente à minha aflição, disse que não valia a pena, pois o táxi demoraria 20 minutes a chegar. E a essa mesma hora havia o autocarro do hotel para o aeroporto. Com o coração a bater e, rezando para que o avião se atrasasse, não tinha outro remédio se não esperar. Felizmente o autocarro foi pontual e ao sábado a estrada estava livre.
Chegado ao aeroporto e com a carta de embarque na mão fui pedindo licença e passei à frente de toda a gente que esperavam pacientemente em filas enormes para passar o controlo da bagagem de mão. Em seguida, descobri em que direcção era a porta de embarque e comecei a correr.
De vez em quando, devolvia um sorriso às pessoas que me olhavam com um sorriso de compaixão e adivinhando a minha situação. Felizmente a porta de embarque não era longe e, antes de entrar para o avião, havia um outro controlo minucioso e demorado. Certifiquei-me que era aquela a porta. Assim, descansado e aliviado, ainda tive tempo de ir à casa de banho mudar a camisa que, apesar do frio, estava molhada de suor.
Entrei no avião, sem pressas, depois de toda a gente. Lá dentro, com um sorriso, recuperei o meu lugar, à janela, entretanto ocupado. Então sim, podia descansar!
Enquanto rezava o breviário, o enorme avião, com cerca de 400 amantes da África, partia suave e decididamente, deixava a Europa e dirigia-se para um outro mundo, a África.
Dez horas depois, oito de voo e duas de espera para obter o visa, pude abraçar um dos meus amigos que me esperava, desesperado pela demora.
Na viagem para casa, ele disse-me que lá em casa a Internet não funcionava e que tinha sido o Provincial a avisa-lo da minha chegada.
Nem perdi tempo a pensar o que teria acontecido, pois sem o E-mail que eu por acaso tinha enviado ao Provincial, eu teria chegado ao Quénia sem ninguém saber e eu não tinha a direcção de nenhuma das nossas casas.
Estou na África e estou bem, graças a Deus. Depois conto-vos do resto da viagem.
Um abraço amigo para todos.
Nairobi (Quénia), 26 de Setembro 2010.

Como evangelizar África (Entrevista ao Jornal da Madeira, 27 de Julho de 2010)

O Pe. Manuel Fidelino Gomes jardim é o primeiro missionário comboniano madeirense e único até ao momento. Natural de São Roque do Faial, o Pe. Fidelino trabalha no Congo há muitos anos e actualmente é responsável por uma paróquia do interior deste país – o terceiro em superfície do continente africano, onde o sacerdote está incumbido de promover a inculturação e o desenvolvimento das populações a todos os níveis.
Oriundo de um ambiente profundamente religioso, com um Bispo na família, D. Manuel Ferreira Cabral, o Pe. Fidelino cedo despertou para a vocação missionária, através da leitura da revista “Além-Mar”, editada pelos Missionários Combonianos, uma congregação à qual, mais tarde, consagraria a sua vida, após estudos em Portugal e Itália.
Fundados por S. Daniel Comboni (1831 – 1881), “um bispo missionário original” que chegou a participar no Concílio Vaticano I (1870), os Missionários Camonianos têm por carisma ajudar os povos africanos na realização da sua própria identidade e no contexto das suas naturais expressões de fé.
Daniel Comboni fundou (em Itália) dois Institutos religiosos, um masculino e outro feminino, dedicados à mesma causa missionaria.
Em 1996 Daniel Comboni foi beatificado em Roma pelo Papa João Paulo II que, sete anos depois, em 2003, presidiria também à sua canonização.
O lema apostólico para ajudar África continua a ser bem considerado, agora como o trabalho missionário de centenas de combonianos.
“Acreditar em Deus é fundamental”
Sobre o contributo da Europa e da Igreja Católica para a evangelização em África este comboniano, que está a passar alguns dias na Madeira, disse ao JM que “o continente Europeu tem muito que dar e receber”, a começar pela “vivência espiritual de Deus, a coisa mais fundamental da vida”.
Em África, por exemplo, “o stress ” que na Europa cresce à medida da “descristianização”, não têm cabimento, porque “a fé dessas pessoas é muito grande e o sentido de felicidade é profundo”, lembrou a propósito.