A visita da Irmã Ilda a Maboma.
A Irmã Ilda é a última missionária comboniana chegada ao Congo. A semana passada esteve em Maboma. Hoje trouxe-a de volta a Isiro (150 km de Maboma) onde ela estuda a língua e cultura locais.
A Irmã Ilda é portuguesa, natural de Lamego, no Norte de Portugal. È de estatura pequena, ar reservado que esconde um temperamento vivo. É muito activa, quase irrequieta, corajosa e destemida, como uma missionária de Comboni.
Ela encontrou-me com um programa cerrado de visita às capelas. Pedi-lhe desculpa e disse que teria que ficar sozinha em casa, mas que todas as tardes eu voltaria. Ela perguntou-me, receosa de ouvir uma resposta negativa, se não podia acompanhar-me. Disse que a levaria com muito gosto, mas alertei-a para as dificuldades duma viagem de mota naquelas estradas. Ela sorriu e respondeu, alegre como uma criança que obtém o seu primeiro diploma: “Olhe que eu sou uma missionara comboniana!”
E de facto viria a revelar-se uma grande missionária!
Quando chegávamos a uma aldeia, as pessoas cumprimentavam-me, mas as senhoras e crianças eram aglomeravam-se à vota da irmã, como que atraída pelo seu amor maternal.
O mais espantoso, quase emocionante, era vê-la no meio dos pigmeus!
As senhoras e as crianças precipitavam-se literalmente sobre ela, rodeavam-na de todos os lados, tocavam-na, as crianças agarravam-se a ela como a uma mãe. A irmã falava pouco, gesticulava muito, abraçava as senhoras, acariciava as crianças e todos riam duma felicidade natural. A sua presença transformava completamente o ambiente da aldeia por onde passava. As jovens agarram os braços da irmã e, desenham, usando uma tinta especial, formas geométricas, como elas mesmas usavam.
A Irmã estava no seu mundo. Respondia a todos com sorrisos, as vezes gargalhadas, distribuía abraços, beijava alguns bebés que ela arrancava dos braços das mães.
Era a primeira visita e ela já tinha conquistado o coração daquela gente. É como se, de repente, tivessem descoberto uma mãe. Ou era como se uma mãe que regressasse duma longa viagem reencontrava os filhos.
Enfim, a irmã Ilda era uma autêntica mãe dos africanos.
Lembrei-me de S. Daniel Comboni, fundador dos Combonianos e Combonianas. O nome original do instituto feminino era “Missionarias, Mães da África”. O grande santo atreveu-se a dizer, numa altura em que a mulher ainda nao contava na igreja, que “uma missionária no centro da África fazia mais do que 5 missionários!”
Bastava observar a Irmã Ilda o seu “trabalho”, as atitudes, as reacções, a sua maneira de ser missionária para razão a Comboni.
A irmã Ilda tinha, porém alguns medos.
O primeiro e maior, que ela não disfarça, eram um horror confesso às cobras! Mesmo que ainda não as tenha visto!
Outro medo que ela tentava esconder, era o pavor de andar de mota. Para mais, era a primeira vez que ela utiliza este meio de transporte. E nesta primeira experiencia ela percorreu cerca de 500 km!
Nas nossas longas andanças eu fazia de tudo para tornar a viagem o mais agradável possível. Isso não impedia que, nos troços mais difíceis, a pobre irmã agarrava-se com todas as forças, encolhia-se, ficava imóvel e até sustinha a respiração. Passado o perigo, dava um grande suspiro aliviada e dizia: “Desta já nos livrámos!”
Outras vezes gritava horrorizada: “vamos passar por ali!?” Quando rolávamos nos raros troços de estrada em boas condições, ela suspirava: “Se toda a estrada fosse assim!”
Outro medo mais declarado, mas que ela exagera, é o receio de não aprender bem a língua. Ela sabe que para “ser mãe dos africanos” é indispensável falar a língua dos filhos.
A pobre queixa-se que “nunca gostou de estudar”, que “já não tem memória”, que “é uma língua muito difícil”. Claro que ela exagera, ainda que o Comboni tenha dito que “um missionário da África deve começar muito cedo, nunca depois dos 30 anos, a aprender a língua e os costumes desta gente.” Ora a nossa Irmã Ilda já vai avançada na casa dos quarenta.
Convenhamos que não é a idade ideal para estudar uma língua completamente diferente da nossa, mas ela tem coragem e força necessárias. Falta-lhe, sem dúvida, um pouco de paciência. Mas cada dia que passa, cada palavra aprendida é uma vitória.
Bem vida à Missão, estimada Irmã Ilda. Nós os “velhos” missionários estamos contigo!
Isiro, 8 de Março de 2012