terça-feira, 12 de abril de 2011

A caminho de Maboma

Depois das férias em Portugal voltei ao Congo. Chegado a Kisangani, a capital do Província Oriental, fui cumprimentar as gentes de Yanonge, onde trabalhei os últimos três anos. Voltei a Kisangani e apanhei um pequeno avião para a cidade de Isiro. Dali teria que fazer 150 km para chegar a Maboma, a minha nova missão.
Em Isiro revi os amigos e esperei em vão que reparassem a moto de Maboma. Então decidi alugar um táxi moto. Falei com dois jovens da paróquia e acordamos o preço, 50€ por cada moto, uma para mim e outra para a minha bagagem. A partida ficou marcada para o dia seguinte, bem cedo.
A propósito, falemos um pouco dos táxis moto, um fenómeno bem congolês. Há poucos anos, os jovens desempregados começaram a transportar pessoas e mercadorias nas bicicletas e, para os que tinham mais possibilidades, em motos. Nasceram os táxis bicicleta e os táxis motos. Foi uma ideia genial que deu trabalho a milhares de jovens e ajuda enormemente as pessoas a deslocarem-se dentro da cidade. Estes “táxis “podem mesmo fazer percursos de centenas de quilómetros, é uma questão de preço.
É verdade que estes jovens, sem as mínimas noções de código da estrada, circulam na maior das desordens e complicam terrivelmente o trânsito. Infelizmente os acidentes mortais são frequentes.
No dia seguinte, depois de um bom pequeno-almoço, partimos pontuais.
À saída da cidade, encontramo-nos com o primeiro imprevisto. A polícia de trânsito estava à nossa espera! Estes jovens taxistas não têm documentos nem carta de condução. Por seu lado, os polícias, que são mal pagos pelo Estado, aproveitam estes “controlos” para conseguir um pouco de dinheiro para sobreviverem. É por isso que, apesar da hora madrugadora, os polícias já procuravam o pequeno-almoço!
 Ao escutarem as motos, um deles põe-se no meio da estrada de apito na boca e mãos abertas, como que a formar uma barragem. As duas motos aproximaram-se lentamente, para pararem uma do cada lado do polícia. Quando chegaram próximo e se preparavam para parar, desviaram-se e aceleraram repentinamente. As motos deram um valente puxão para a frente e afastaram-se velozmente do polícia espantado. Ele ainda se voltou, apitou e gesticulou, mas era demasiada tarde, as motos escaparam e ele ficou a olhar.

A viagem correu “normalmente” nestes carreiros que já foram boas estradas. A floresta está a ocupar o espaço que lhe tinha sido roubado! De facto, grande parte do trajecto é feita no meio da floresta. Circula-se por um carreiro estreito onde abundavam as poças de água, pedras, raízes de árvores e sobretudo muita lama que exigem uma perícia especial e a um jogo de equilibrismo constante.

 Frequentemente era necessário desviar-se das árvores caídas e seguir um carreiro ainda mais pequeno e perigoso no meio da floresta. Outras vezes tive que descer para empurrar as motos que se tinham afundado na lama. Por duas vezes o rapaz perdeu o controlo da moto e caímos, sem consequências graves. A cerca de 30 km de Maboma um tronco de árvore partiu o pedal do travão da moto onde eu ia. O moço não se preocupou muito. De facto, não tivemos problemas acrescido por falta de travões.
Finalmente chegamos a Maboma. O Irmão João Maria, e o Padre Paulo, dois missionários comboniano congoleses e meus novos colegas de missão, estavam à minha espera. Acolheram-me com um grande abraços e muitos sorrisos.
Estava cansado, mas feliz, tinha chegado à minha nova casa.

Maboma, 6 de Novembro de 2010

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