quinta-feira, 8 de março de 2012

Uma morte antecipada

História da morte de um animal que é uma parábola da vida real.

A Maboma temos um pequeno rebanho de cabras e ovelhas que são de uma grande ajuda para a nossa comunidade.
Uma noite, acordei com os berros desesperados de todo o curral. Fui ver e descobri que uma cabra tinha tido uma cria e que esta estava entalada entre duas tábuas.
Quando me aproximei para a libertar, fui invadido pelas formigas vermelhas que, subindo pelas pernas, me invadiram completamente e picavam como abelhas. Com o foco vi que a cria estava completamente coberta de formigas que a devoravam. Ela debatia-se, mas não se podia libertar. Afastei-me, para me defender, mas a cria corria perigo de morte. Era urgente tirá-la dali, mas, se a fosse socorrer outras formigas me invadiriam.
Tentei outras vezes, mas nada! Era necessária uma alavanca para separar as tábuas e libertar o pequeno animal. Esqueci as mordidas de centenas de formigas e, numa tentativa mais demorada e decidida, consegui libertar o animal. Coloquei-a longe das formigas, onde a mãe veio em seu socorro e precipitei-me para o duche. Tomar um banho era a única maneira de se libertar das formigas.
Depois de ter mudado de roupa voltei a ver o estado do animal - as formigas não a tinham deixado. O seu pequeno corpo era um autêntico formigueiro. Como tirá-las?
Meti a cabritinha dentro de um balde de água. Foi uma boa operação, as formigas vinham ao de cima e eu tirava-as para fora, mas a cabritinha começou a tremer de frio. Lembrei-me que tínhamos um termos de água quente para o café da manhã. Deitei a água quente no balde. Dento da água tépida, o animal restava calmo, só com a cabecinha de fora, como se tivesse voltado ao ventre da mãe. Alguns bons minutos depois já não há formigas.
Enxuguei a, tirei ainda as formigas da sua boca e finalmente meti-a ao lado da mãe que acolheu agradecida. Voltei para a cama. Toda a operação demorou mais de uma hora, mas tinha salvado um animal!
No dia seguinte, antes de sair para visitar uma capela, controlei e vi que estava bem arrebitada ao lado da mãe. Notei, porém, que não mamava. Falei com o rapaz encarregado dos animais, disse-lhe o que se tinha passado e recomendei-lhe que fosse cuidadoso. Parti descansado.
À tarde quando voltei, o moço disse-me que a cria estava a morrer. Fui ver, mas já não havia nada a fazer. O pequeno animal morreu nas minhas mãos. Tinha vivido menos de 24 horas!
Não consegui esconder o meu descontentamento. O rapaz respondeu-me com a maior calma do mundo: “Porque se zanga? Chegou a hora da cabritinha morrer, não podíamos fazer nada!”
Fiquei chocado com a resposta, mas para quê responder?
Com esta mentalidade fatalista não admira que as crianças morram às dezenas, as pequenas doenças não curadas se tornem em doenças mortais e que a morte, quase quotidiana, seja uma coisa normal. De facto, aqui, a maior parte das mortes são “mortes antecipadas”, não querida por Deus e fruto da negligência humana.
O grande desafio dos missionários é ensinar a esta gente a “agarra-se à vida” a esforçar-se por “viver bem” mesmo num ambiente pobre.
È preciso proclamar bem alto que a maior glória de Deus é o homem vivente.

Maboma, Fevereiro de 2012

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