Partir
Exílio
ou nova missão?
Depois de quase
um quarto de século de vida missionária em a África, mais
concretamente, no Congo, ex- Zaire, estou de partida para um período de
trabalho missionário em Portugal. O coração rebela-se, a memória enche o
presente com imagens felizes dum passado vivido em cheio; os
cristãos, o meu povo, a minha nova família que aqui deixo, não
compreendem.
A lógica da vida religiosa e missionária aconselha e a obediência dá razão. É
preciso fazer a mala, apertar o coração, controlar a emoção, limpar as lagrimas
e partir.
Mas restam algumas perguntas.
Porquê partir? É uma interrogação normal, pois o missionário
parte para as missões, não regressa das missões. Como explicar esta
partida contra a dinâmica da vida missionária?
Os superiores justificam-se : “É bom que venhas, para Portugal,
para que outros missionários possam partir para a Africa”. È
verdade, têm razão, aceito, pois não posso ser egoísta! Há um colega
que espera a minha chegada para poder partir como missionário para o Brasil.
Partir é morrer um pouco?
Sim. Deixar a nossa missão, a nossa casa, o ambiente ao qual nos
tínhamos habituado. Interromper tantas actividades importantes,
meter fim a um estilo de vida, deixar hábitos e maneiras de ser e estar na vida
que se tinham tornado uma segunda natureza. Sobretudo, abandonar, de
um dia para o outro e, para sempre, uma rede de relações e
amizades construída ao longo dos anos.
Sim, partir é difícil, doloroso e quase injusto! Sim, sem
dúvida, partir é morrer um pouco!
A palavra que mais ouço, nestes dias, é: “Vá com Deus, não nos veremos mais!”
Por outro lado, partir faz
parte de vida e é ,mesmo, saudável. A vida é movimento, acção,
mudança, deslocações, partidas e chegadas. A actividade missionária
está, especialmente, associada a longas
viagens para terras desconhecidas. O missionário é um vagabundo
do Evangelho, um “sem-terra” que percorre o mundo sem parar. É uma
pessoa livre de todas as amarras, sempre disponível para ser enviado
para onde e quando for necessário. A natureza profunda do missionário
é estar sempre em caminho, em missão - “Ide por todo o mundo e
anunciai o Evangelho!”
Mais ainda, partir é ir ao encontro de novas oportunidades. É um
acto de confiança no futuro, é olhar o amanhã com esperança e
abrir-se com generosidade e disponibilidade à Vontade de Deus e ao
seu plano de salvar todos os homens, em todos o lugares.
Finalmente, partir é um acto
de purificação. É um convite à renovação interior. A partida
obriga-nos a reorganizar a vida, deixar tudo o que é supérfluo e centrar-se
no que é essencial, importante e fundamental.
O missionário parte ligeiro e livre dos erros do passado e rico
de experiências positivas. Assim ,ele pode continuar, noutro sítio,
a missão de sempre, mas duma maneira renovada e actualizada.
Neste sentido, partir não é um castigo, mas é uma sorte. É
uma oportunidade para reajustar a rota, requalificar as capacidades
e recomeçar com novas energias.
Há 25 anos a Igreja de Portugal enviou-me como missionário para as missões da
África.
Hoje, os cristãos africanos, do Congo, enviam-me para as missões de Portugal.
Cheguei jovem e inexperiente, parto fortalecido pela fé dos
cristãos africanos e com muita coisa para contar.
Não, não parto para o exílio, vou como missionário, sou
enviado para uma nova Missão.
Um forte abraço amigo para
todos.
Fidelino,
Missionário nas missões de Portugal
Bambilo, R.D. Congo, Fevereiro
de 2016
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