Um quarto vazio
Durante
muitos anos, trabalhei na África (Congo), um dos países mais pobres e
problemáticos do mundo.
Agora,
por algum tempo, a minha Missão é em Portugal, na periferia pobre de Lisboa.
A
vida do missionário é um constante caminhar por ambientes longínquos e pobres,
sem nunca parar. Ele não escolhe o rumo nem recusa uma proposta de missão.
Nós,
missionários, só temos a liberdade de aceitar, com alegria e disponibilidade, a
Missão que se segue. Desta vez, a minha liberdade, feita de obediência e
vontade de servir, levou-me a uma outra terra e outra missão num ambiente
completamente diferente da África.
A
minha atual Missão chama-se Camarate e Apelação. São duas paróquias na
periferia de Lisboa. Aqui há de tudo: zonas onde vive gente mais ou menos rica
e, outras, onde estão “arrumados” os muito pobres. Infelizmente, estas
situações de miséria e marginalização são normais na periferia de Lisboa, uma
grande capital do mundo Ocidental farto de tudo e pobre do essencial.
Os
meus três colegas da nova missão acolheram-me de braços abertos e
apresentam-me, como morada, um quarto completamente vazio – é a minha nova
morada, no terceiro andar de um prédio ainda em boas condições.
Na
verdade, o quarto pequeno e iluminado, tem o essencial: uma cama confortável
para descansar e recuperar energias necessárias para o trabalho que me espera.
Uma mesa, limpa e livre de tudo que, aos poucos, se encherá de papeis, notas e
muitos afazeres. Um grande armário, embutido na parede que, aos poucos, vai
encher-se de tudo, mesmo do supérfluo!
Ainda
estou no princípio da minha presença nesta nova terra. Por agora, faço como
todos os missionários quando chegam a um novo local - observar, escutar e
aprender. Sim, tenho muito que aprender; em 25 anos fora do meu país e da minha
cultura, muitas coisas mudaram na sociedade e na vida das pessoas.
Já
comecei a escrever algumas coisas na minha agenda, até agora vazia. Vou
acrescentando números no meu novo telefone e junto novas direções na lista de
e-mails.
Aproveito
todos os momentos para conhecer as” minhas ovelhas”. É o momento de encher o
meu dia com novas ocupações e o coração com novas amizades.
Em
breve, o meu quarto como a minha vida estarão cheios. O quarto de coisas
importantes e muitas coisas inúteis das quais me libertarei quando for enviado
para outra missão. A minha vida encher-se-á de pessoas com histórias únicas,
preocupações, urgências e amizades que alargarão o meu coração e enriquecerão a
minha vida.
O
missionário está sempre em Missão. E toda a Missão enche completamente a vida
do missionário.
Um
abraço amigo para todos.
P. Fidelino
Camarate (Lisboa) Outubro de 2016
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