sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O primeiro passo - a Missão de Nduye

A grande e antiga diocese do bispo S. Daniel Comboni (1831-81) incluía uma parte do actual Congo. Ele tinha projectado a abertura duma missão neste país, mas a sua morte prematura adiou a sua realização. Foi só em 1952, que um grupo de missionárias de Comboni chegaria a Nduye, bem no meio da floresta congolesa.
Eu tinha programado, várias vezes, visitar Nduye, mais nunca tive a possibilidade. Um dia, indo a caminho de Butembo, passei por lá.
Viajávamos, já há sete horas, quando chegamos a uma pequena e miserável povoação. Eram 13.00 horas e o sol abrasador parecia haver expulsado a vida daquela terriola sem beleza. O meu colega disse: “É aqui Nduye!” Era então, aquela a nossa terra santa, a porta de entrada dos combonianos no Congo! Paramos, procuramos a antiga missão e fomos acolhidos pelo velho catequista que guarda a antiga casa dos missionários. Abrimos o nosso farnel e comemos sem pressa enquanto o catequista narrava emocionado a história daquela missão. Ouçamo-lo!

Foi pela mão do padre Longo, um missionário do Coração de Jesus (Dehonianos), que as Combonianas tinham chegado até ali.
Em 1951, cansado de viver sozinho e sabendo da falta que faziam as irmãs na missão, ele foi à Itália decidido a voltar com uma comunidade de missionárias. O P. Longo estava de acordo com Comboni que dizia: “Nestas terras africanas uma irmã faz mais do que cinco padres!”
Durante três meses, o missionário percorreu a muito católica Itália, bateu a porta de muitíssimos conventos de irmãs, para escutar as irmãs aterrorizadas responderem: “Levar irmãs para o meio da África!!!” Mais que uma temeridade, semelhante convite soava a uma provocação.
O tempo de regressar aproximava-se e o desespero aumentava. Como podia apresentar-se sozinho na sua querida missão! Ele tinha prometido que regressaria com as irmãs e os cristãos já tinham começado a construir a casa para elas.
Nas vésperas de partir, já conformado com a sua pouca sorte, alguém lhe indicou um convento de irmãs na pequena cidade de Verona. Já sem esperança e sabendo antecipadamente a resposta, o missionário bateu à porta e apresentou-se. Em vez do habitual refrão, a irmã que o acolheu, que era a madre geral das Missionarias Combonianas, olhou-o admirada e contemplou-o em silêncio. Quem sabe, a madre geral, ao contemplar aquele missionário barbudo, avançado nos anos e a careca queimada pelo sol africano, ter-se-á lembrado do seu santo fundador, Daniel Comboni. O padre não compreendia o que estava a acontecer e a madre parece que tinha perdido a fala. Finalmente, ela deu um grito de alegria, abraçou o missionário dizendo: “Padre, foi Deus que o enviou aqui!”
Sentados, tomando uma taça de chá, a madre explicou ao atónito missionário os motivos de tanta alegria. As Combonianas estavam em vários países da África, mas nunca tinham sido convidadas para trabalhar no Congo, terra bem-amada de Comboni. Além disso, naqueles dias, havia um grupo de 5 jovens irmãs que tinham terminado a formação e estavam impacientes para partir para a África, mas não sabiam onde envia-las. A madre concluiu com as palavras mais doces que o santo missionaria jamais tinha ouvido: “As cinco irmãs partirão todas consigo para a sua missão, serão como suas filhas!”
Voando de alegria o padre regressou ao Congo para terminar a casa das irmãs.
Pouco depois, chegaram as juveníssimas missionárias, o padre acolheu-as de facto como filhas e os cristãos receberam-nas, de braços e corações abertos, como mães carinhosas.
Em 1964, durante uma guerra, o padre Longo e as irmãs foram presos. O missionário foi assassinado e as irmãs foram obrigadas a abandonar a missão.
Elas voltariam, outra vez, até que una nova guerra, em Dezembro de 1996, as expulsou definitivamente.
Desde então a missão de Nduye está abandonada.

Mambasa (R.D. Congo), 6 de Junho de 2011


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