domingo, 8 de março de 2015

A MISSÃO CONTINUA

Os efeitos da guerra na Republica Centro-Africana

Encontro-me actualmente no país vizinho, a Republica Centro-Africana. Fica só a 200 km de Bondo a cidade mais próxima de Bambilo, onde vivo.
Tive uma ocasião e aproveitei para ver o bispo local que é um missionário comboniano espanhol. A estrada é  boa, mas  assim precisamos de 10 horas de viagem para fazer 200 km!
Desde há dois anos, este país vive uma terrível guerra civil. A intervenção  internacional conseguiu acalmar um pouco a confusão, mas a paz ainda esta longe.
Os comerciantes hesitam antes de fazer novos investimentos, as pessoas vivem aterrorizadas pelo passado recente e têm medo do que posa ainda acontecer, a inseguranças é generalizada e o trabalho de reconstrução avança timidamente.
Aqui, nestas terras africanas, a  situação repete-se, vezes sem fim -  um tem o poder, outros querem conquista-lo e desencadeiam a guerra. Durante o tempo de guerra ,os homens armados, tornam-se bestas ferozes e, com as armas na mão, ódio no coração e a cabeça vazia, tudo é possível. A primeira coisa que  fazem, neste estado de confusão total,  é  roubar, violar, matar e destruir.
 Aqui, nesta cidade fronteiriça, milhares de pessoas atravessaram o pequeno rio que divide os dois países, e refugiaram-se no Congo. O interessante, é que, há poucos anos, foram os congoleses que se refugiaram nesta cidade.
Foram especialmente atingidas as igrejas e as comunidades religiosas. Estes rebeldes tinham um ódio especial por tudo o que é cristão. Uma comunidade de irmãs contou-me os momentos de terror por que passaram. Foi o medo que as fez correr mais rápido que os bandidos armados que as perseguiam a poucos metros de distância. A floresta acolhedora e a gente amiga protegeram-na durante uns dias, até o furacão da violência e da destruição passar.
O bispo  local, que na altura estava na capital, distante de 700 km, veio apressado e com a sua influência conseguiu calmar a situação e pedir tropas para proteger a população e os bens que restavam.
Agora a situação está sob controlo das tropas das Nações Unidas. Tudo está calmo, mas as pessoas estão traumatizadas e temem que a situação se repita.
Nesta situação, a vida  recomeça timidamente, até porque tudo o que tinha valor foi roubado ou destruído. Nem um meio de transporte ficou em toda a cidade. Apenas duas pequenas  motas das irmãs, que foram escondidas a tempo, escaparam.
O Senhor bispo, homem corajoso e determinado, que é bem conhecido no estrangeiro,  tem pedido ajuda internacional. O hospital já funciona quase normalmente, todas as escolas voltaram ao normal e já chegaram alguns carros que animam a pequena cidade.
As pessoas aqui viviam melhor que no Congo e o país é melhor organizado. Apesar desta guerra civil destruidora, o país tem possibilidade de retomar o ritmo antigo.
O missionário é um enviado de Deus;  é Ele que nos guarda e cuida. Assim estamos sempre seguros e em boas mãos.  Neste  ambiente desumano, onde a barbárie parece reinar, os missionários ainda têm muito para fazer.
Portanto, a missão continua e as forças e coragem ainda não se esgotaram!
Fidelino

Bangassou (República Centro Africana), 28 de Janeiro de 2015.

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