Os perigos da floresta
A história de um jovem missionário atacado pelas
vespas assassinas
Esta história tem como
protagonistas, o calmo Irmão António, caçador exímio e pescador apaixonado, o
pacifico padre Lourenço que todos os dias nada nas águas amenas do rio e um
jovem missionário, apenas chegado e a população de Bambilo que viveu um drama
incrível.
Um domingo à tarde, estavam
os missionários no rio, acompanhados pelas numerosas crianças que se divertiam
a vê-los, cada um entregue ao seu hobby. O Irmão recolhia os peixes presos nas
redes, o padre Lourenço nadava como um patinho e o jovem missionário viajava
alegremente dentro duma pequena piroga, acompanhado por crianças.
A um certo momento, quando
o irmão e o padre já tinham partido, a piroga do missionário ficou presa a um
ramo. Ao tentar libertá-la, despertou um enxame de vespas africanas que se
precipitaram sobre os incautos navegadores.
São vários os casos de
gente atacada por estes insectos ferozes, há mesmo casos de morte.
O missionário não tinha mãos
a medir, queria remar forte para se afastar do perigo mortal. Mas deixava o
remo para socorrer as crianças que, picadas, gritavam de dor. Ele mesmo,
tentava livrar-se das vespas que faziam dele o alvo principal. Era uma luta
desigual e sem esperança!
Entretanto, o Irmão António
e o padre Lourenço, alertado pelas pessoas, voltaram ao rio. Deram-se conta da
gravidade da situação e mandaram um jovem libertar a piroga.
Chegado à margem, as duas
crianças em estado de choque, foram as primeiras a serem socorridas. Felizmente
estavam fora de perigo, pois tinham sido bem protegidas pelo missionário.
Entretanto, o missionário tinha desmaiado e estava estendido dentro da piroga.
Por sorte ele não caiu à água!
O irmão e o padre, ajudados
pelas pessoas, precipitaram-se e trouxeram o corpo inconsciente para terra.
Tiraram-lhe a roupa cheia de vespas. Ele ficou em fato de banho. Mais parecia
um cadáver, pálido como a cera, os olhos virados e uma respiração difícil,
forçada e ruidosa.
Untaram-no com óleo de
palma e deram-lhe a beber uma boa quantidade deste óleo, que normalmente é
intragável, mas que funciona como anti-veneno. Era tudo o que podiam fazer!
O corpo, porém, não reagia!
Ele deitava baba pela boca e cada respiro cavernoso parecia ser o último! Todos
assistiam impotentes a um corpo que lutava instintivamente, utilizando até ao
extremo as últimas forças, para restar em vida. O veneno das abelhas estava a
fazer o seu trabalho!
Os dois missionários foram
os únicos que nunca se resignaram. O P. Lourenço chorava desconsoladamente. Ele,
homem muito sensível, tinha perdido, pouco tempo antes, um irmão o que o tinha
feito sofrer muito. Naquele momento, ele benzeu um pouco de óleo e deu, ao seu
colega que estava para partir, os últimos sacramentos.
No cúmulo do desespero, com
um grito que era uma mistura de raiva, dor, desespero e confiança cega, o padre
Lourenço, desafiou Deus: “Senhor, o meu irmão partiu, mas este meu colega tens
que o salvar! Eu não o deixo partir!”
Entretanto o irmão e os
jovens transportaram o missionário, em fim de vida, para o centro de saúde, que
na realidade, são duas cabanas de palha e barro. O responsável, único
enfermeiro formado, não estava. Os outros ajudantes viram-se diante de uma
situação impossível. Era um caso desesperado para o melhor médico no melhor dos
hospitais. O que podiam fazer naquele lugar, gente não preparada e sem
remédios?
Às pessoas que vinham
curiosas e chorosas, o p. Lourenço mandava-as para a igreja rezar.
Por sorte, um casal de
leigos comboniano veio com uma pequena reserva de remédios, guardada
cuidadosamente para uso pessoal. Mas o que fazer? No meio da confusão e
indecisão, ouviu-se uma voz trémula, mas forte e decidida. Era uma antiga
enfermeira, agora meio paralisada por um derrame cerebral que veio curiosa e sentenciou
segura de si mesma: “Dêem-lhe todas as injecções que têm!”
Em pouco tempo o corpo
inconsciente recebeu uma dezena de injecções! Nem se deram ao trabalho de
procurar o bom sitio, era onde calhava, sobretudo nas pernas!
Em seguida, chegou o irmão
António com um colchão, pois o missionário estava deitado no chão. Ele também
perguntou: “ Já lhe deram cortisona?” Procuraram e, deram-lhe mais uma
injecção!
De repente, e sem que
ninguém esperasse, o missionário mexeu levemente os olhos e balbuciou “casa de
banho!”. Dois jovens apressaram-se e levaram-no nos braços até à floresta. Foi
a primeira reacção do organismo à grande quantidade de óleo de palma bebido
inconscientemente.
O perigo estava passado!
Todos respiraram de alívio e os rostos, tristes e chorosos, encheram-se de
sorrisos. O nosso herói ainda levou várias horas para recuperar completamente a
consciência. Cada vez que abria os olhos repetia a única coisa que o
preocupava: “como estão as crianças?” A resposta era a mesma – “Estão muito
bem!” Ele acalmava-se e voltava tranquilamente ao seu sono profundo. A
respiração normalizou-se e, de vez em quando abria os olhos atónito e
perguntava outra vez pelas crianças. Ainda meio inconsciente, trouxeram-no para
casa e deitaram-no na sua cama sob a guarda vigilante do infatigável p.
Lourenço.
Às três da manhã, acordou,
completamente consciente. Perguntou pela última vez pelas crianças que estavam
com ele na piroga e ouviu a narração completa das últimas dez horas em que
esteve completamente ausente e, naturalmente não se recordava da nada.
È certo que o nosso jovem
missionário foi salvo em extremo. O p. Lourenço que contava e recontava a
história, repetia, “Ele (o missionário) já tinha partido! Já estava do outro
lado!”
Quem salvou o jovem
missionário? O intragável óleo de palma, os muitos remédios dados com
desespero, a fé inabalável e teimosa do p. Loureço, o choro e a oração
comovente de toda uma aldeia?
Há pouco tempo, na América
Latina, morreu um missionário comboniano, picado pelas vespas!
Fidelino
Bondo, 13 de Agosto de 2014
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