domingo, 8 de março de 2015

Os perigos da floresta

A história de um jovem missionário atacado pelas vespas assassinas

Esta história tem como protagonistas, o calmo Irmão António, caçador exímio e pescador apaixonado, o pacifico padre Lourenço que todos os dias nada nas águas amenas do rio e um jovem missionário, apenas chegado e a população de Bambilo que viveu um drama incrível.
Um domingo à tarde, estavam os missionários no rio, acompanhados pelas numerosas crianças que se divertiam a vê-los, cada um entregue ao seu hobby. O Irmão recolhia os peixes presos nas redes, o padre Lourenço nadava como um patinho e o jovem missionário viajava alegremente dentro duma pequena piroga, acompanhado por crianças.
A um certo momento, quando o irmão e o padre já tinham partido, a piroga do missionário ficou presa a um ramo. Ao tentar libertá-la, despertou um enxame de vespas africanas que se precipitaram sobre os incautos navegadores.
São vários os casos de gente atacada por estes insectos ferozes, há mesmo casos de morte.
O missionário não tinha mãos a medir, queria remar forte para se afastar do perigo mortal. Mas deixava o remo para socorrer as crianças que, picadas, gritavam de dor. Ele mesmo, tentava livrar-se das vespas que faziam dele o alvo principal. Era uma luta desigual e sem esperança!
Entretanto, o Irmão António e o padre Lourenço, alertado pelas pessoas, voltaram ao rio. Deram-se conta da gravidade da situação e mandaram um jovem libertar a piroga.
Chegado à margem, as duas crianças em estado de choque, foram as primeiras a serem socorridas. Felizmente estavam fora de perigo, pois tinham sido bem protegidas pelo missionário. Entretanto, o missionário tinha desmaiado e estava estendido dentro da piroga. Por sorte ele não caiu à água!
O irmão e o padre, ajudados pelas pessoas, precipitaram-se e trouxeram o corpo inconsciente para terra. Tiraram-lhe a roupa cheia de vespas. Ele ficou em fato de banho. Mais parecia um cadáver, pálido como a cera, os olhos virados e uma respiração difícil, forçada e ruidosa.
Untaram-no com óleo de palma e deram-lhe a beber uma boa quantidade deste óleo, que normalmente é intragável, mas que funciona como anti-veneno. Era tudo o que podiam fazer!
O corpo, porém, não reagia! Ele deitava baba pela boca e cada respiro cavernoso parecia ser o último! Todos assistiam impotentes a um corpo que lutava instintivamente, utilizando até ao extremo as últimas forças, para restar em vida. O veneno das abelhas estava a fazer o seu trabalho!
Os dois missionários foram os únicos que nunca se resignaram. O P. Lourenço chorava desconsoladamente. Ele, homem muito sensível, tinha perdido, pouco tempo antes, um irmão o que o tinha feito sofrer muito. Naquele momento, ele benzeu um pouco de óleo e deu, ao seu colega que estava para partir, os últimos sacramentos.
No cúmulo do desespero, com um grito que era uma mistura de raiva, dor, desespero e confiança cega, o padre Lourenço, desafiou Deus: “Senhor, o meu irmão partiu, mas este meu colega tens que o salvar! Eu não o deixo partir!”
Entretanto o irmão e os jovens transportaram o missionário, em fim de vida, para o centro de saúde, que na realidade, são duas cabanas de palha e barro. O responsável, único enfermeiro formado, não estava. Os outros ajudantes viram-se diante de uma situação impossível. Era um caso desesperado para o melhor médico no melhor dos hospitais. O que podiam fazer naquele lugar, gente não preparada e sem remédios?
Às pessoas que vinham curiosas e chorosas, o p. Lourenço mandava-as para a igreja rezar.
Por sorte, um casal de leigos comboniano veio com uma pequena reserva de remédios, guardada cuidadosamente para uso pessoal. Mas o que fazer? No meio da confusão e indecisão, ouviu-se uma voz trémula, mas forte e decidida. Era uma antiga enfermeira, agora meio paralisada por um derrame cerebral que veio curiosa e sentenciou segura de si mesma: “Dêem-lhe todas as injecções que têm!”
Em pouco tempo o corpo inconsciente recebeu uma dezena de injecções! Nem se deram ao trabalho de procurar o bom sitio, era onde calhava, sobretudo nas pernas!
Em seguida, chegou o irmão António com um colchão, pois o missionário estava deitado no chão. Ele também perguntou: “ Já lhe deram cortisona?” Procuraram e, deram-lhe mais uma injecção!
De repente, e sem que ninguém esperasse, o missionário mexeu levemente os olhos e balbuciou “casa de banho!”. Dois jovens apressaram-se e levaram-no nos braços até à floresta. Foi a primeira reacção do organismo à grande quantidade de óleo de palma bebido inconscientemente.
O perigo estava passado! Todos respiraram de alívio e os rostos, tristes e chorosos, encheram-se de sorrisos. O nosso herói ainda levou várias horas para recuperar completamente a consciência. Cada vez que abria os olhos repetia a única coisa que o preocupava: “como estão as crianças?” A resposta era a mesma – “Estão muito bem!” Ele acalmava-se e voltava tranquilamente ao seu sono profundo. A respiração normalizou-se e, de vez em quando abria os olhos atónito e perguntava outra vez pelas crianças. Ainda meio inconsciente, trouxeram-no para casa e deitaram-no na sua cama sob a guarda vigilante do infatigável p. Lourenço.
Às três da manhã, acordou, completamente consciente. Perguntou pela última vez pelas crianças que estavam com ele na piroga e ouviu a narração completa das últimas dez horas em que esteve completamente ausente e, naturalmente não se recordava da nada.
È certo que o nosso jovem missionário foi salvo em extremo. O p. Lourenço que contava e recontava a história, repetia, “Ele (o missionário) já tinha partido! Já estava do outro lado!”
Quem salvou o jovem missionário? O intragável óleo de palma, os muitos remédios dados com desespero, a fé inabalável e teimosa do p. Loureço, o choro e a oração comovente de toda uma aldeia?
Há pouco tempo, na América Latina, morreu um missionário comboniano, picado pelas vespas!

 Fidelino

Bondo, 13 de Agosto de 2014

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