A pequenina Beatriz
História de uma bonita menina que a malária não deixou
viver
Estou de volta à
minha missão, bem no coração da África. Depois de umas longas férias, já tinha
saudades destas florestas densas e ricas em caça e dos rios numerosos e
generosos em peixes.
Mas, naturalmente,
tinha saudades sobretudo desta gente alegre e acolhedora e das crianças, nossas
amiguinhas preferidas.
Nestes primeiros
dias, as pessoas vieram cumprimentar-me, perguntar pela família (pergunta
obrigatória) e manifestar a alegria por me ver de volta. Alguns dizem –
“estávamos com medo que não voltasses mais!”
No primeiro
domingo, depois da missa, as crianças vieram cumprimentar-me. Vinham aos
bandos, apressadas e risonhas, as mãozinhas estendidas, os olhos cheios duma
felicidade enorme e as bocas cheias de risos, como se fossem as crianças mais
felizes do mundo.
Cumprimentei todos,
as vezes, agarrando várias mãozinhas duma vez. Deixo-me envolver e levar por
esta onda de alegria e entusiasmo.
Depois pergunto
pela Cristina e pela Bea (diminutivo de Beatriz). Eram duas meninas
lindíssimas, vivas e irrequietas como um passarinho e muito inteligentes nos
seus quatro aninhos de idade. Elas viviam mesmo ao lado da missão e as suas
mães eram as responsáveis pela escola de corte e costura da paróquia. Por isso
a Cristina e a Bea passavam horas sem fim junto connosco. As vezes, comiam
connosco. Estranhei que não tivessem vindo dar-me as boas vindas.
“A Cristina, já não
está aqui, foi com os pais para uma grande cidade”, responderam as crianças. È
a realidade do nomadismo interno, muito comum neste enorme país.
“E a Bea, para onde
foi?”perguntei eu curioso. Os rotinhos alegres fecharam-se um pouco e disseram,
sem saber o peso das palavras – “A Bea morreu!
Para mim foi um
choque, como para todos os que um mês antes a levaram ao cemitério. As pessoas
amam a vida e toda a morte é uma tragédia, mas a morte duma criança é a maior
desgraça que se pode abater sobre uma família.
A pequena Beatriz
tinha morrido de malária, a doença terrível que mata milhares de crianças
africanas. A malária ou paludismo é uma infecção provocada pela picada dum
mosquito. Se a pessoa não for imediatamente medicada, pode morrer em poucos
dias. A malária é especialmente perigosa para as crianças até aos 4 ou 5 anos.
O drama é que há
remédios disponíveis contra este flagelo e nem são caros. Mas as pessoas, na
sua ignorância e, as vezes, na miséria estrema, não compram os remédios e
deixam estar o doente e esperam que a doença passe. Um adulto pode resistir às
altas febres da malária, as crianças são as vítimas privilegiadas e indefesas
desta maldição que assola a África há milhares de anos.
Queremos constituir
um depósito de medicamentos, a bom preço, para fornecer os pequenos centros de
saúde desta zona.
Iniciamos a
construção dum novo e grande centro de saúde, aqui no centro da missão.
Acabou de chegar
uma enfermeira bem formada que habita permanentemente aqui.
Esperemos que todas
estas iniciativas dêem fruto e que reduzam em muito a morte das nossas
crianças, a maior riqueza deste grande país.
Bambilo,
15 de Outubro de 2013
NB. Podem ter mais notícias minhas em missaonocongo.blogspot.com
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