quarta-feira, 14 de maio de 2014

A pequenina Beatriz

História de uma bonita menina que a malária não deixou viver

Estou de volta à minha missão, bem no coração da África. Depois de umas longas férias, já tinha saudades destas florestas densas e ricas em caça e dos rios numerosos e generosos em peixes.
Mas, naturalmente, tinha saudades sobretudo desta gente alegre e acolhedora e das crianças, nossas amiguinhas preferidas.
Nestes primeiros dias, as pessoas vieram cumprimentar-me, perguntar pela família (pergunta obrigatória) e manifestar a alegria por me ver de volta. Alguns dizem – “estávamos com medo que não voltasses mais!”
No primeiro domingo, depois da missa, as crianças vieram cumprimentar-me. Vinham aos bandos, apressadas e risonhas, as mãozinhas estendidas, os olhos cheios duma felicidade enorme e as bocas cheias de risos, como se fossem as crianças mais felizes do mundo.
Cumprimentei todos, as vezes, agarrando várias mãozinhas duma vez. Deixo-me envolver e levar por esta onda de alegria e entusiasmo.
Depois pergunto pela Cristina e pela Bea (diminutivo de Beatriz). Eram duas meninas lindíssimas, vivas e irrequietas como um passarinho e muito inteligentes nos seus quatro aninhos de idade. Elas viviam mesmo ao lado da missão e as suas mães eram as responsáveis pela escola de corte e costura da paróquia. Por isso a Cristina e a Bea passavam horas sem fim junto connosco. As vezes, comiam connosco. Estranhei que não tivessem vindo dar-me as boas vindas.
“A Cristina, já não está aqui, foi com os pais para uma grande cidade”, responderam as crianças. È a realidade do nomadismo interno, muito comum neste enorme país.
“E a Bea, para onde foi?”perguntei eu curioso. Os rotinhos alegres fecharam-se um pouco e disseram, sem saber o peso das palavras – “A Bea morreu!
Para mim foi um choque, como para todos os que um mês antes a levaram ao cemitério. As pessoas amam a vida e toda a morte é uma tragédia, mas a morte duma criança é a maior desgraça que se pode abater sobre uma família.
A pequena Beatriz tinha morrido de malária, a doença terrível que mata milhares de crianças africanas. A malária ou paludismo é uma infecção provocada pela picada dum mosquito. Se a pessoa não for imediatamente medicada, pode morrer em poucos dias. A malária é especialmente perigosa para as crianças até aos 4 ou 5 anos.
O drama é que há remédios disponíveis contra este flagelo e nem são caros. Mas as pessoas, na sua ignorância e, as vezes, na miséria estrema, não compram os remédios e deixam estar o doente e esperam que a doença passe. Um adulto pode resistir às altas febres da malária, as crianças são as vítimas privilegiadas e indefesas desta maldição que assola a África há milhares de anos.
Queremos constituir um depósito de medicamentos, a bom preço, para fornecer os pequenos centros de saúde desta zona.
Iniciamos a construção dum novo e grande centro de saúde, aqui no centro da missão.
Acabou de chegar uma enfermeira bem formada que habita permanentemente aqui.
Esperemos que todas estas iniciativas dêem fruto e que reduzam em muito a morte das nossas crianças, a maior riqueza deste grande país.
Bambilo, 15 de Outubro de 2013



NB. Podem ter mais notícias minhas em  missaonocongo.blogspot.com

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