Natal na floresta
O dia de Natal entre um pneu furado e um catequista
demasiado preocupado.
Depois de um Advento cheio de viagens para visitar
todos os cristãos, fui celebrar a noite de Natal numa capela a 40 km e a missa
do dia, noutra capela, no caminho de retorno. A missa do galo foi uma
festa grande e longa, pois há cerca de 10 anos que não tinham missa de Natal.
De manha, levantei-me com o canto do galo, o corpo
dolorido, pois dormi numa esteira, mas tomei uma boa taça de café quente e
perfumado que nem dei pela falta do açúcar. Arrumei o saco na mota, o nosso
meio de transporte e, surpresa, um pneu estava vazio! Enchi-o e parti para
celebrar a missa do dia de Natal. Na capela de destino não encontrei ninguém e
voltei para trás e para celebrar numa capela a 10 km. O tambor anunciou a
joiosa surpresa e os cristãos precipitaram-se para participar na grande missa
de Natal.
Eu porém tinha outro problema, o pneu da mota estava
furado! Nós viajamos sempre com o material necessário para reparar pequenas
avarias e encontra-se sempre um habilidoso que sabe o necessário para nos tirar
dos apuros. Infelizmente, naquela aldeia não havia nenhum habilidoso! Ainda
pior foi descobrir que faltavam os ferros para desmontar o pneu e tirar a
câmara de ar. Para um trabalho relativamente simples, tive que usar dois
bocados de ferro impróprios o que me custou um grande esforço, um dedo esfolado
e muito tempo de trabalho. Tirei a velha câmara-de-ar e substituí-a por uma das
novas, tinha duas. Mais um grande trabalho para o recolocar o pneu. Tudo feito
tentei atestar, mas havia uma fuga de ar. Tive que desmontar novamente o pneu e
descobri que a válvula estava descolada, portanto uma câmara-de-ar defeituosa!
Tinha de refazer todo o trabalho! Entretanto chegou o
velho e sábio catequista sempre simpático e tranquilo. Daquela vez, porém,
estava muito aborrecido e falava com voz forte. Queixava-se agressivamente de
duas coisas.
Primeiro, como podia o padre vir à sua capela sem o
avisar? Quem iria preparar de comer? Digo-lhe, continuando o meu trabalho, que
normalmente é o padre que se aborrece com o catequista, desta vez é o
contrario. As pessoas acharam graça, ele, porém continuou; como é possível que
eu não conheço a sua capela, pois tinha passado de manhã e depois voltei para
trás!
Terminei todo o trabalho, remeti o pneu no seu lugar, a
mota estava aparentemente pronta. Mas, ao verificar, o pneu estava outra vez
vazio! Nem quis acreditar, com os ferros tinha rompido a câmara de ar nova,
tinha que refazer tudo de novo! Mais de duas horas de trabalho inútil!
Deixei o trabalho para depois da missa, pois todos me esperavam
pacientemente. O catequista queria que eu tomasse banho, pois estava
completamente encharcado de suor. Disse-lhe que bastava lavar a mãos cheias de
óleo e terra. A sua nova preocupação era o sabão, que, naturalmente não tinha.
Esfreguei as mãos com erva. Quando a água tocava o dedo ferido arrepiava-me de
dor, o catequista repreendia-me dizendo: “sabe-se que a água na ferida dói!”
Ainda antes de começar a missa, o catequista veio ter
comigo muito preocupado; havia muita gente para confessar, precisaria de pelo
menos uma hora, disse ele. Disse-lhe que no Natal todos têm o direito de
receber os sacramentos. Com várias horas de atraso, começamos a missa de Natal.
A alegria é enorme, mas o catequista continuava de mau humor. Interrompia a
coral que prolongava os cânticos, apressava as pessoas que, dançando
participavam no ofertório. Ele repetia “O padre tem um longo caminho antes de
chegar à casa! “O padre non pode passar a noite aqui!”
A missa terminou, mas a festa não parou. Cumprimentei
as pessoas e voltei a fazer todo o trabalho para desmontar o pneu, pela
terceira vez! Ao recolocar a câmara-de-ar refeita com cola da floresta, o pobre
catequista repetia angustiado “padre, por favor, tenha cuidado, não a rompa
outra vez!”
Sim da terceira foi de vez! A mota estava pronta!
Alguém tinha trazido comida, comi bem e regressei sem dificuldades.
Cheguei à casa bastante antes de o anoitecer, mas
demasiada tarde para o prometido jogo de futebol com os jovens. Deveríamos
estrear uma bola nova! Eles foram compreensivos e marcámos o jogo para o
primeiro do ano.
Bambilo, Natal de 2013
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