Uma viagem sofrida
A viagem de mota de Kisangani a Bondo.
1
- Uma estrada cheia de perigos
A minha viagem de
regresso á missão foi feita em duas etapas. Já vimos a primeira da Europa até
Kisangani, cidade no Nordeste do Congo. Falemos da segunda parte que me
conduziu até Bondo, perto da Republica Centro Africana, uma distância de mais
de 500 km.
Estas viagens
longas e difíceis exigem uma boa preparação, muitas coragem e, o mais
importante, muita fé em Nossa Senhora da Boa Viagem!
Fiz a viagem com um
jovem que ia entregar a mota, apenas comprada, ao seu irmão que vive em Bondo.
Digamos que apanhei uma boleia. Os preparativos começaram no dia anterior.
Comprei 22 litros de gasolina, comida, caso fosse necessário, (pão e sardinhas
em conserva), 5 litros de água potável e dinheiro no bolso. Este seria
indispensável para passar as inúmeras barreiras. Nestas estradas, os polícias e
os militares bloqueiam a via com uma longa cana de bambu. O objectivo é
controlar o trânsito e verificar os documentos. Na realidade, eles pretendem um
pouco de dinheiro para comer, ou, como dizem – “dá-nos o nosso café!”
A viagem começou de
manhã, muito cedo. Atámos bem os cerca de 50 kg de bagagem. Deixamos uma parte
do assente para mim, o chofer sentou-se em cima do depósito da gasolina.
Vestimos um bom casaco para nos proteger do frio matinal e das possíveis quedas
e serviria também como agasalho para passar a noite. Metemos um capacete na
cabeça, botas nos pés e luvas fortes nas mãos. Fiz uma oração, que continuou
durante toda a viagem, e partimos!
Mais de metade dos
500 km é uma boa estrada, recentemente reparada. Nestas estradas boas, os
perigos são enormes. O maior é o excesso de velocidade e o desrespeito total
pelo código da estrada. Cada condutor ocupa a melhor parte da via, sem pensar
que, a todo o momento, pode aparecer alguém no sentido contrário. Aqui reina a
lei do mais forte – o veículo mais pequeno tem de deixar passar o maior.
Estas grandes e
importantes vias de comunicação são muito movimentadas. Há, antes de mais, os
camiões enormes com remoque que são os reis da estrada, depois, os carros
ligeiros sempre apressados, em seguida, as motas carregadas até ao extremo que
correm como flechas, finalmente as bicicletas lentas como caracóis que
transportam de tudo. Há que contar ainda com as pessoas que caminham
desordenadamente e, o grande perigo, os animais domésticos (sobretudo cabras e
porcos) que circulam livremente nestes grandes espaços livres. Muito raramente
se encontram animais selvagens, que, na verdade, são cada vez ais raros.
A apenas 50 km da
partida tivemos um acidente, felizmente sem gravidade. Eu já tinha observado
que o rapaz corria veloz, mas controlava muito bem a mota. Corríamos a grande
velocidade, apareceu uma curva fechada que precedia uma descida, ele desviou-se
duma cabra que atravessava a estrada, perdeu o controlo da mota. Fomos
projectados com violência para dentro da valeta. O capacete livrou-nos do pior!
Eu fui o primeiro a levantar-me. Não tive dificuldade em tirei a perna que
tinha ficado presa debaixo da mota, junto do cano de escape. O corpo estava
intacto, apenas uma dor no pescoço, sem consequências.
O meu colega
continuava estendido com a mota por cima. Pedi ajuda às pessoas que acorreram
curiosas e preocupadas, tirámos o chofer e endireitámos a mota. O violento
impacto tinha partido toda a parte dianteira da mota. A carga estava segura, os
dois bidões de gasolina intactos. O bidão da água estava rasgado na parte
superior, mas ainda recuperamos uma parte. O chofer estava bem, mas triste como
a noite. Olhava para a mota semi-destruída e lançava suspiros de desespero. O
irmão tinha-o mandado buscar uma mota nova, ali estava uma mota meio destruída.
Eu queria voltar à
cidade para concertar a mota e recuperar do choque. Ele preferiu continuar viagem.
O motor, os pedais e tudo o resto estava em bom estado. Continuámos a viagem.
Mas, a partir daquele momento, era eu que, sentado atrás, comandava. Dezenas de
vezes, tive de dizer-lhe para reduzir a velocidade, para ocupar a sua direita,
para fazer atenção a uma curva ou, mesmo, para sair fora da estrada e deixar
passar um carro apressado. Na verdade, nos dois dias de viagens não tivemos o
mínimo acidente. Bem, sustos e dores de barriga não faltaram! (A continuar)
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