sexta-feira, 21 de outubro de 2022

 

A alegria de Belém 

Feliz Natal de 2021! 

O Natal de 2021 é o mesmo de sempre, mas, mesmo assim, pode ser um Natal diferente, único.

Será um Natal especial se celebrado intensamente com a justa medida de silêncio, reflexão e meditação.

Um Natal bem vivido pode durar longo tempo. Ainda recordo o meu primeiro Natal africano, vivido, há muitos tempo, numa pequena comunidade cristã bem no coração da floresta.

 Passaram muitos anos, mas os seus efeitos duram até ao presente.

Deixei o centro da missão, bem cedo, e dirigi-me para uma pequena aldeia isolada e bem protegida por uma densa floresta, pequenos rios e muitos riachos.  Os primeiros 50 km usei o jeep. Depois pedalei a bicicleta por mais 30 km, sempre no meio da vegetação abundante, densa e verdejante. 

À minha espera estava toda a aldeia em ambiente de festa. A capela de palha e paredes de barro estava limpa e concertada, parecia nova. As pessoas vestiam as pobres roupas de sempre, mas a alegria era nova e reforçada. A comida de todos os dias, talvez mais abundante, era partilhada com uma felicidade comunicativa e expansiva. 

Chegou a hora da celebração do Natal, bem no meio da noite. A pequena capela estava completamente cheia. À volta do altar havia duas tochas que davam luz suficiente para iluminar todo o espaço. Começamos a celebração com a procissão de entrada, o celebrante, dois leitores e alguns acólitos. Desde o fundo da capela avançávamos a passo de caracol enquanto toda a gente cantava  ao ritmo dos tambores. Eram afinadas e fortes e a dança respeitosa e intensa – era a alegria total, de corpo e alma.

Seguiu-se uma celebração longa mais de duas horas. 

 A festa era intensa e palpável, a felicidade individual e comunitária ecoava pela vasta floresta. A silenciosa noite encheu-se de contentamento e júbilo sem fim. Em Belém os coros dos anjos ajudaram as pobres vozes dos pastores. Ali, a capela era o palco onde um potente e afinado coro, ajudada pelo ribombar dos tambores, convidava toda a floresta a alegrar-se com a grande festa do Natal.

 Não me lembrou o que disse, na altura ainda balbuciava a língua local. Esqueci o nome da aldeia, que provavelmente já não existe. Mas a alegria e a felicidade experimentada, vivida e partilhada,  essa fica para sempre. Foi o primeiro Natal africano, o mais forte e até comovente, talvez o mais feliz cuja recordação ficará para sempre.

 O Natal não depende da qualidade nem da quantidade de presentes dados e recebidos. Trata-se de acolher, na nossa vida concreta, o Hóspede divino. Não depende de comidas apuradas nem de bebidas requintadas. Natal é um acontecimento divino. É deixar-se invadir pelo mistério de um Deus que se faz menino para poder partilhar completamente a nossa pobre humanidade.

 Os “meus cristãos” ensinaram-me que o Natal não pertence aos fartos e abastados, cheios de tudo e vazios do essencial. Natal é a festa dos simples de coração e pobres de bens materiais, os únicos com espaço para acolher completamente o Emmanuel, o Deus connosco que enche todas as dimensões da nossa vida.  Natal não é um banquete, é uma experiencia religiosa, é um encontro misterioso mas real. 

Um forte abraço amigo com os melhores votos de

Bom Natal e Feliz ano novo para ti e toda a tua família.

Kampala, Uganda, Natal de 2021

Fidelino

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