sexta-feira, 21 de outubro de 2022

 A avó de Jesus

Bom Natal 2019!

 

Encontrei a senhora Ana quando visitava uma missão. Estava de partida para a Europa depois de uma rápida estadia de três semanas. Aproveitei o pouco tempo disponível para escutar a sua muito interessante e formativa história.

A Ana, como gosta de ser chamada, é uma senhora bem-apresentada, tem um físico de uma atleta ou modelo. Fala com entusiasmo da sua vida, longa de 75 anos, das duas filhas, que pensam diversamente e, fala, sobretudo, do seu marido com quem partilha a vida e a paixão pela África.

A Ana foi educada numa escolha católica de irmãs que lhe deixaram o amor pelos mais pobres. Ainda jovem enfermeira ela passou umas férias num hospital na Índia. Mais tarde, esteve na Tanzânia e, desde há vinte anos descobriu a sua nova paixão – as crianças sem escola dum lugar esquecido do Uganda.

Tudo começou quando duas colegas lhe disseram que tinham estado no Uganda a visitar uns missionários amigos. Chegadas ao local, descobriram que a casa, onde ficariam hospedadas, não tinha casa de banho. Assim, nesse mesmo dia, foram dormir a uma pensão e, no dia seguinte, voltaram para a Europa escandalizadas - como é possível viver sem casa de banho! A visita foi rápida, mas os efeitos duradouros! O pior, continuam a contar as colegas da Ana,  foi  terem esquecido de deixar o dinheiro que levavam para ajudar a missão. Essa foi a ocasião para a Ana, na altura jovem despachada e afoita, iniciar uma história que dura há mais de vinte anos.

Através das amigas, que lhe deram o dinheiro já recolhido, ela contactou os missionários e, no ano seguinte, a Ana e o marido, um bom pedreiro com um coração dourado, vieram, plea primeira vez ao Uganda para terminar a casa dos missionários, incluindo as casas de banho. Aqui descobriram as aldeias cheias de crianças sem escola.

Nos vinte anos seguintes a Ana e o marido com a ajuda de muitos amigos que recolhiam ofertas, vêm ao Uganda, todos os anos durante um ou dois meses para construírem novas escolas. Já vão na escola número 80! Mesmo assim, ainda há crianças sem escola e por isso a missão continua. Entretanto também construíram algumas capelas, uma dela dedicada a santa Ana.

A minha maior alegria, diz ela, é estar rodeada de crianças que me chamam “MÃE”, mas eu sei que estes anjos são os meus netos. Ana, continua ela, era a mãe de Maria, Nossa Senhora e, avó de Jesus. Estas crianças são como o menino Jesus e eu sou a avó deles todos!

Ana, depois da reforma, é livre e pode dedicar-se ao que mais gosta, estar nesta terra e fazer qualquer de útil para estas crianças e preparar-lhes um futuro.

A Ana é uma guerreira e ganhou todas as batalhas da vida: casou aos 18 anos sem saber o que fazia, criou duas filhas o melhor que pode, erradicou dois cancros do seu corpo e reformou-se antes do tempo. Agora vive com uma reforma de 600 Euros, tem o apoio total do marido e a ajudada de centenas de amigos. Todos juntos vivem para algumas crianças do Uganda .

Mas a guerra da Ana ainda não terminou. Antes de mais, são as 2 filhas que não querem que a mãe parta; depois é o marido que começa a estar cansado (ser pedreiro aos 75 anos não é fácil). Mas, a maior batalha é com o cardiologista que lhe diz constantemente, senhora Ana, cuidado que o seu coração não aguenta tanta actividade!

A Ana ri-se e diz que um mês por ano, passado no meio dos seus novos netinhos (as crianças africanas) enche-lha a vida de alegria, faz bem ao coração e dá-lhe força e energia para todo o ano.

Além disso, a Ana já tem o testamento – Se eu morrer na África deixem-me cá, no meio daqueles que sempre amei. Mas usem os 10.000 Euros que gastariam para repatriar o meu corpo, para construir uma nova escola. Entretanto a Ana vive feliz no meio dos seus netinhos!

Bom Natal!                  

      Fidelino

                          Kampala (Uganda), Natal de 2019

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