A avó de Jesus
Bom
Natal 2019!
Encontrei a senhora Ana quando
visitava uma missão. Estava de partida para a Europa depois de uma rápida
estadia de três semanas. Aproveitei o pouco tempo disponível para escutar a sua
muito interessante e formativa história.
A Ana, como gosta de ser chamada,
é uma senhora bem-apresentada, tem um físico de uma atleta ou modelo. Fala com
entusiasmo da sua vida, longa de 75 anos, das duas filhas, que pensam
diversamente e, fala, sobretudo, do seu marido com quem partilha a vida e a
paixão pela África.
A Ana foi educada numa escolha
católica de irmãs que lhe deixaram o amor pelos mais pobres. Ainda jovem
enfermeira ela passou umas férias num hospital na Índia. Mais tarde, esteve na
Tanzânia e, desde há vinte anos descobriu a sua nova paixão – as crianças sem
escola dum lugar esquecido do Uganda.
Tudo começou quando duas colegas
lhe disseram que tinham estado no Uganda a visitar uns missionários amigos.
Chegadas ao local, descobriram que a casa, onde ficariam hospedadas, não tinha
casa de banho. Assim, nesse mesmo dia, foram dormir a uma pensão e, no dia
seguinte, voltaram para a Europa escandalizadas - como é possível viver sem
casa de banho! A visita foi rápida, mas os efeitos duradouros! O pior,
continuam a contar as colegas da Ana, foi terem esquecido de deixar o dinheiro que
levavam para ajudar a missão. Essa foi a ocasião para a Ana, na altura jovem
despachada e afoita, iniciar uma história que dura há mais de vinte anos.
Através das amigas, que lhe deram
o dinheiro já recolhido, ela contactou os missionários e, no ano seguinte, a
Ana e o marido, um bom pedreiro com um coração dourado, vieram, plea primeira
vez ao Uganda para terminar a casa dos missionários, incluindo as casas de
banho. Aqui descobriram as aldeias cheias de crianças sem escola.
Nos vinte anos seguintes a Ana e
o marido com a ajuda de muitos amigos que recolhiam ofertas, vêm ao Uganda,
todos os anos durante um ou dois meses para construírem novas escolas. Já vão
na escola número 80! Mesmo assim, ainda há crianças sem escola e por isso a
missão continua. Entretanto também construíram algumas capelas, uma dela
dedicada a santa Ana.
A minha maior alegria, diz ela, é
estar rodeada de crianças que me chamam “MÃE”, mas eu sei que estes anjos são
os meus netos. Ana, continua ela, era a mãe de Maria, Nossa Senhora e, avó de
Jesus. Estas crianças são como o menino Jesus e eu sou a avó deles todos!
Ana, depois da reforma, é livre e
pode dedicar-se ao que mais gosta, estar nesta terra e fazer qualquer de útil
para estas crianças e preparar-lhes um futuro.
A Ana é uma guerreira e ganhou
todas as batalhas da vida: casou aos 18 anos sem saber o que fazia, criou duas
filhas o melhor que pode, erradicou dois cancros do seu corpo e reformou-se
antes do tempo. Agora vive com uma reforma de 600 Euros, tem o apoio total do
marido e a ajudada de centenas de amigos. Todos juntos vivem para algumas
crianças do Uganda .
Mas a guerra da Ana ainda não
terminou. Antes de mais, são as 2 filhas que não querem que a mãe parta; depois
é o marido que começa a estar cansado (ser pedreiro aos 75 anos não é fácil).
Mas, a maior batalha é com o cardiologista que lhe diz constantemente, senhora
Ana, cuidado que o seu coração não aguenta tanta actividade!
A Ana ri-se e diz que um mês por
ano, passado no meio dos seus novos netinhos (as crianças africanas) enche-lha
a vida de alegria, faz bem ao coração e dá-lhe força e energia para todo o ano.
Além disso, a Ana já tem o testamento – Se eu morrer na África deixem-me cá, no meio daqueles que sempre amei. Mas usem os 10.000 Euros que gastariam para repatriar o meu corpo, para construir uma nova escola. Entretanto a Ana vive feliz no meio dos seus netinhos!
Bom Natal!
Fidelino
Kampala (Uganda), Natal de 2019
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