sexta-feira, 21 de outubro de 2022

 
Feliz Páscoa 2020!
A história da Ana e da Maria
 
Este ano temos uma Páscoa sem festa, mas, como sempre, cheia de Ressurreição!
A Páscoa é o desabrochar da vida nova no meio da morte. É a luz da Ressurreição que ilumina o nosso
presente sombrio. Páscoa é a força do Ressuscitado que transforma toda a realidade e vence a morte.
Ao desejar-te boa festa da Ressurreição, gostaria de retomar a história da senhora Ana, a “a “Avó de
Jesus.” Lembras-te da Ana, a senhora reformada que dedica o seu tempo a construir escolas no Uganda?
A Ana tem duas filhas e vários netos. Falemos da filha mais velha. Chama-se Maria e é uma mulher de
sucesso. Foi uma excelente estudante, tem uma ótima carreira profissional, um marido maravilhoso e
duas filhas extraordinárias. A Maria herdou da mãe uma vontade férrea e uma capacidade de lutar por
aquilo em que acredita. O resultado é um nível de vida muito elevado e uma confiança inabalável nas
suas capacidades e num futuro assegurado contra todos os contratempos. A Maria costuma resumir a
sua vida em poucas palavras: “Tudo o que tenho consegui-o com o meu trabalho, não devo nada a
ninguém e a minha família está em primeiro lugar!” Afirmação bonita e moderna!
Escutemos o desabafo da senhora Ana, quando fala da filha:
“Cada vez que saio de casa para ir passar algum tempo na África, é uma guerra com a minha Maria.
Ela diz-me que ando a perder tempo e a preocupar-me com gente distante e desconhecida. Que eu
troco a família por estranhos. Eu fico em silêncio para controlar os ânimos. Mas tinha vontade de
dizer-lhe que ela faz férias quatro vezes por ano, compra roupas caríssimas que usa uma só vez e
passa mais tempo a visitar lojas do que a conversar com o pai e com a mãe. Doí-me o coração ver
os milhares de Euros que ela gasta em coisas inúteis e nunca deu um cêntimo para comprar um
caderno para as minhas crianças africanas.”
A senhora Ana continua,
“A minha netinha queria vir comigo. A ideia de passar um mês com a avó, conhecer nova gente,
ver uma realidade diferente e, sobretudo, conhecer as crianças que enchem a vida da avó era,
para a jovem, uma ocasião a não perder. Além disso, seria uma grande ajuda para mim, pois a
minha neta fala inglês e conhece melhor como circular nos grandes aeroportos. Falei com a minha
filha que se opôs-se com todas as forças – Ir para a Africa, para o meio da sujidade, ainda apanha
alguma doença, nem pensar! Você faça o que quiser, mas a minha filha, nunca viajará, nunca!”
Em vez de vir comigo, a mãe obrigou a miúda a ir fazer um curso de inglês em Boston (USA)! Eu
tive que viajar sozinha, o que me custa muito. A minha neta podia estudar inglês aqui no Uganda!”
Depois de escutar a Ana, pensemos seriamente na Maria que, orgulhosamente, diz “A minha família em
primeiro lugar!” Será verdade? Quem está, verdadeiramente em primeiro lugar na vida da Maria? Certamente não a mãe, de quem desconhece o rico e generoso coração, nem a filha a quem impede viajar com a querida avó. Melhor seria dizer que a Maria, mulher cheia de si mesma, é o centro da família, do mundo, e, quem sabe, do universo!
Ela organiza a sua vida, gasta o seu dinheiro e manda nos outros, exceto na mãe, claro! A verdade é que esta pobre senhora tem sucesso na vida, tem dinheiro e é admirada pelo mundo. Mas falta-lhe o principal – olhos para ver o essencial da vida. A Maria é cega e surda! Não vê os sonhos da sua
própria mãe e não ouve a voz da filha que quer experimentar uma outra vida e viver novas aventuras!
É tempo de Páscoa, Luz, Ressurreição, Vida Nova.
A senhora Ana já vive a Páscoa partilhando a sua vida nova com as crianças pobres da África. Ela caminha, a passos largos, na estrada que vai do “eu” ao TU e que nos conduz à Ressurreição.
A pobre Maria ainda vive no túmulo do “eu”, cega e surda para as vivências dos seus, fechada ao “outro”.
A tragédia da Maria é viver num mundo totalmente fechado, onde não há espaço para a Ressurreição.
Boa festa de Páscoa e da Vida Nova para ti e toda a tua família!
 

Fidelino

Kampala, Uganda, Páscoa 2020


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