sexta-feira, 21 de outubro de 2022

 

Boa Páscoa!

Da terra ao Céu

 

 A Páscoa é a maior festa da nossa fé, aprendemos isso no catecismo. Na realidade do nosso dia-a-dia, a Páscoa é a festa mais difícil de compreender. Gostaria de partilhar contigo a história da senhora Maria, esperando que ajude a esclarecer o grande mistério da nossa fé - a Páscoa.

Conheci a senhora Maria num encontro ocasional. É uma pessoa simples, bem apresentada, avançada nas casa dos sessenta e adivinha-se um grande sofrimento, uma tristeza profunda que domina toda a sua existência e personalidade. É católica e pratica a sua fé com Missa ao domingo e orações diárias.

Ela casou cedo e tiveram uma filha que foi uma bênção de Deus e o centro da vida do casal.

Durante anos, diz ela, viveram como a família de Nazaré, unidos, felizes e abençoados por Deus.

Um dia, porém tudo mudou. A menina, a única filha,  foi atropelada e morreu imediatamente!

A senhora Maria continuou a sua narração acompanhada de abundantes lágrimas. Na verdade, chorou muito e falou pouco. Disse que a sua vida tinha terminado no dia em que enterrou a sua querida filhinha. O marido queria outro filho, mas ela, com medo de o perder noutro acidente, fechou o seu coração a uma nova vida, a um novo amor, a uma nova oportunidade.

Apesar de crente, muito católica, a senhora Maria tem uma mágoa profunda - “Deus poderia ter impedido aquele acidente!” E continua -  “Que mal fiz a Deus para me castigar com tanta dor?”

Ela conclui a sua história dizendo que duas vezes por dia, vai ao cemitério “visitar e pôr flores a sua querida menina” e isto já dura há mais de quarenta anos!

Lembrei-me de tantas outras senhoras Maria e senhores Manuel que passaram pela mesma experiência. Aceitaram a partida do filho\filha e vivem felizes dizendo – “Deus deu-nos  filhos na terra e um anjo no Céu!” Ou “A morte do meu filho\filha foi uma grande dor, mas tornou-se na maior das bênçãos.”

Outros afirmam, ajudados pela Fé pascal, na Ressurreição – “ Não entendo os planos de Deus, mas sinto que o meu filho\filha é um anjo no Céu rezando por mim e pela minha família.”

A senhora Maria, ainda que católica e praticante, não acredita na Ressurreição! Portanto não é Cristã!

Ela vive num passado distante, antes da vinda de Jesus, antes da Ressurreição. Que pobre cristão!

Ela passa imensamente mais tempo no cemitério do que na Igreja. Ela enche a sua vida com um morto e esquece  Jesus vivo e Ressuscitado que está na Igreja e em todo o lado. Pior ainda, a senhora Maria continua a procurar entre os mortos a sua filhinha que está bem viva e muito feliz no Céu!

Páscoa é a passagem de Jesus do cemitério ao Céu. Jesus viveu a nossa vida, partilhou as nossas angústias e sofreu mais do que podemos imaginar. Morreu, foi sepultado, venceu a morte, saiu vitorioso do túmulo e agora vive uma vida completamente nova no Céu.

A terra é um lugar de passagem, somos viajantes para o destino final que é o Céu. O drama e a infelicidade da senhora Maria é viver agarrada a um punhado de terra, presa a uma menina que existiu há quarenta anos,  em vez de levantar os olhos para o Céu. Ela faz da terra uma morada definitiva.

Páscoa é viver com os pés bem assentes na terra, mas a cabeça e o coração, a esperança está no Céu!

É por isso que eu e  “os meus cristãos” no meio de tantas dificuldades, rodeados de tantas doenças, onde a morte é companheira quotidiana, podemos, hoje, cantar “Aleluia, o Senhor Ressuscitou!”

Um abraço amigo com os melhores votos de boa Páscoa para ti e toda a tua família.

Fidelino  

Kampala (Uganda), Páscoa 2021

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