Boa Páscoa!
Da terra ao Céu
A Páscoa é a maior festa da nossa fé, aprendemos isso no catecismo.
Na realidade do nosso dia-a-dia, a Páscoa é a festa mais difícil de
compreender. Gostaria de partilhar contigo a história da senhora Maria, esperando
que ajude a esclarecer o grande mistério da nossa fé - a Páscoa.
Conheci a senhora Maria num encontro ocasional. É uma pessoa simples, bem
apresentada, avançada nas casa dos sessenta e adivinha-se um grande sofrimento,
uma tristeza profunda que domina toda a sua existência e personalidade. É
católica e pratica a sua fé com Missa ao domingo e orações diárias.
Ela casou cedo e tiveram uma filha que foi uma bênção de Deus e o centro da
vida do casal.
Durante anos, diz ela, viveram como a família de Nazaré, unidos, felizes e
abençoados por Deus.
Um dia, porém tudo mudou. A menina, a única filha, foi atropelada e morreu imediatamente!
A senhora Maria continuou a sua narração acompanhada de abundantes
lágrimas. Na verdade, chorou muito e falou pouco. Disse que a sua vida tinha
terminado no dia em que enterrou a sua querida filhinha. O marido queria outro
filho, mas ela, com medo de o perder noutro acidente, fechou o seu coração a
uma nova vida, a um novo amor, a uma nova oportunidade.
Apesar de crente, muito católica, a senhora Maria tem uma mágoa profunda -
“Deus poderia ter impedido aquele acidente!” E continua - “Que mal fiz a
Deus para me castigar com tanta dor?”
Ela conclui a sua história dizendo que duas vezes por dia, vai ao cemitério
“visitar e pôr flores a sua querida menina” e isto já dura há mais de quarenta
anos!
Lembrei-me de tantas outras senhoras Maria e senhores Manuel que passaram
pela mesma experiência. Aceitaram a partida do filho\filha e vivem felizes
dizendo – “Deus deu-nos filhos na terra e um anjo no Céu!” Ou “A morte do
meu filho\filha foi uma grande dor, mas tornou-se na maior das bênçãos.”
Outros afirmam, ajudados pela Fé pascal, na Ressurreição – “ Não entendo os
planos de Deus, mas sinto que o meu filho\filha é um anjo no Céu rezando por
mim e pela minha família.”
A senhora Maria, ainda que católica e praticante, não acredita na
Ressurreição! Portanto não é Cristã!
Ela vive num passado distante, antes da vinda de Jesus, antes da
Ressurreição. Que pobre cristão!
Ela passa imensamente mais tempo no cemitério do que na Igreja. Ela enche a
sua vida com um morto e esquece Jesus vivo e Ressuscitado que está na
Igreja e em todo o lado. Pior ainda, a senhora Maria continua a procurar entre
os mortos a sua filhinha que está bem viva e muito feliz no Céu!
Páscoa é a passagem de Jesus do cemitério ao Céu. Jesus viveu a nossa vida,
partilhou as nossas angústias e sofreu mais do que podemos imaginar. Morreu,
foi sepultado, venceu a morte, saiu vitorioso do túmulo e agora vive uma vida
completamente nova no Céu.
A terra é um lugar de passagem, somos viajantes para o destino final que é
o Céu. O drama e a infelicidade da senhora Maria é viver agarrada a um punhado
de terra, presa a uma menina que existiu há quarenta anos, em vez de levantar
os olhos para o Céu. Ela faz da terra uma morada definitiva.
Páscoa é viver com os pés bem assentes na terra, mas a cabeça e o coração,
a esperança está no Céu!
É por isso que eu e “os meus cristãos” no meio de tantas
dificuldades, rodeados de tantas doenças, onde a morte é companheira
quotidiana, podemos, hoje, cantar “Aleluia, o Senhor Ressuscitou!”
Um abraço amigo com os
melhores votos de boa Páscoa para ti e toda a tua família.
Fidelino
Kampala (Uganda), Páscoa 2021
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